Friday, January 4, 2008

Os dias da Garagem

«Ehh pá…, toca lá um pouco mais baixo, que eu não consigo ouvir o que o nosso vocalista está a cantar!», vociferava o teclista. «Será a “munição” dos instrumentos a culpada? Estará mal colocada, mal direccionada, desequilibrada ou o mal estará em nós?». Era um facto que, devido ao excesso de decibéis existentes naquele espaço tão exíguo, estávamos, de forma gradual e sub-reptícia, a ensurdecer.

Mesmo sabendo das consequências, ainda não eram suficientes para “lhes passarmos grande cartão” e, em conformidade, ensaiávamos “a abrir!” e “a partir!”. Sem darmos conta acabávamos por conviver com níveis sonoros muito próximos do barulho (mais de 100 dB). Estávamos, literalmente, a transformar o som da nossa música em lixo sonoro.

Por alguma ignorância, voluntarismo imberbe e laivos de inconsequência juvenil abdicávamos de ensaiar o mais “unplugged” possível ou então de recorrer à amplificação com recurso a pré misturas o mais próximas do som de palco, para – em substituição – ter como referente o ideal sonoro do som que sai para o público. Pois é…, transformar ensaios em concertos não foi, sem dúvida, a melhor opção!

A perda de audição tem destas coisas, quanto menos ouvimos mais nos queremos ouvir e a bola de neve tende a aumentar sempre que “forçamos a barra”. O contacto continuado com valores superiores aos cem decibéis vai deixando mossa na acuidade auditiva aos sons extremos (graves e agudos).

Para um músico nada poderá ser pior que não conseguir ouvir aquilo que quer que os outros ouçam. E aqui não podemos culpar o técnico de som!?...

in "A Garagem" - http://www.agaragem.com/1/bandas/index2.php?parte=cronicas&id=96

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